Análise "hertzbergeriana" de espaços-usos da EA
O hall de entrada, como o próprio nome indica, representa o local de acesso ao ambiente da faculdade. Contudo, mais do que isso, em termos de gradação espacial, corresponde à transição entre o espaço público e o privado. Isso porque, apesar do caráter público da universidade – o que, em tese, significaria sua abertura a todos que por ali quisessem transitar – na prática, há lugares convencionalmente restritos aos estudantes, professores e demais funcionários. Assim, o hall é a separação entre a rua e as salas de aula, laboratórios, bibliotecas e outras dependências relacionadas ao fazer acadêmico propriamente.
Ao mesmo tempo, a grande porta - sempre aberta - e o uso de vidro na fachada, se reafirmam como formas convidativas à entrada do público em geral. Desse modo, o hall também funciona como uma espécie de cartão de visita, a primeira impressão causada a quem adentra o edifício. Amplo, iluminado, monumental – especialmente devido à presença da estátua do Profeta e da imponente escada – imediatamente provoca a admiração do usuário. No entanto, como é característico dos edifícios oficiais, demasiadamente grandiosos e austeros, torna-se pouco atrativo à interação dos usuários. É belo e, por isso, admirado, mas não convida ao toque, à intervenção em sua forma.
Mesmo os alunos se sentem, de certa forma, intimidados a se apropriarem permanentemente do espaço. Isso é atestado ao se observar que não se sentem responsáveis pela manutenção dessa dependência, ao contrário do que ocorre em outros espaços da faculdade como por exemplo o DA.
O Diretório Acadêmico, DA, é um ambiente de utilização comunitária principalmente entre os alunos da Escola de Arquitetura e Design. A decoração e ambientação do espaço foi realizada pelos próprios estudantes, trazendo uma identidade singular e condizente com os usuários que o frequentam. A presença de mesas, cadeiras, sofás, poltronas e mesas de jogos criam um ambiente multifuncional e mutável. O usuário tem a possibilidade de sentar sozinho, em grupo e realizar diferentes atividades como estudar, conversar, jogar e, até mesmo, a realização de festas e eventos, deslocando os móveis de lugar e criando novos espaços. É importante lembrar que é um ambiente dentro da faculdade apropriado pelos alunos e frequentemente utilizado por eles, o que se traduz como um convite para alterações.
Voltando para o Hall, em termos de urdidura, sua estrutura formal, harmônica e organizada possui uma identidade muito própria. Mais uma vez, deve-se destacar a centralidade monumental e simbólica da estátua e da escada. Todavia, as extensas dimensões do ambiente e seus espaços vazios são propícios a intervenções momentâneas. É dessas alterações efêmeras que se constitui a trama, a partir de eventos como exposições e o uso durante as aulas, por exemplo. Ademais, por estar ligado, também, à rua, torna-se uma extensão desta durante a realização de feiras e festas ao ar livre, por exemplo.
Vale destacar, também, sua polivalência: além de constituir um local de circulação e interação entre os estudantes, é também uma área de descanso momentânea (ao fim das aulas, por exemplo) e, como mencionado anteriormente, pode ser aproveitado para performances, exposições e outras atividades do gênero. Apesar dessa multifuncionalidade, mantém sua identidade própria e imponente. A sensação apreendida pelo usuário nunca é de neutralidade.
O impacto causado por essa primeira visão do edifício magnifica o contraste em relação às áreas mais restritas da faculdade, em muitos casos, deterioradas. Esse contraste também se dá pela grande interatividade propiciada por outros espaços, o que em muito difere da intocabilidade do hall. Assim, em termos de ordenamento, a coesão entre esse espaço de entrada e os demais componentes do espaço não é tão perceptível. Pelo contrário, há uma forte diferenciação e hierarquia.
Ao adentrar pela faculdade, encontramos as salas de aula que se configuram como um ambiente mais íntimo que o imponente Hall, mas ao mesmo tempo mais impessoal que o DA. Esses espaços são fechados e delimitados por portas, transmitindo uma ideia de uma certa necessidade de privacidade de quem se encontra dentro das salas. Vale lembrar que há um fluxo de diferentes turmas de alunos que frequentam uma mesma sala, sendo assim, uma turma não cria uma relação de identidade tão forte com a sala, visto que alternam entre elas, ao contrário do DA, um espaço constantemente utilizado pelos alunos em diversos momentos.
Especialmente para aqueles que não frequentam diariamente a Escola de Arquitetura, o hall se sobrepõe como o espaço central, que interliga todos os andares e salas por meio da escada, dos corredores e do elevador. Além disso, é partir dele que se pode ter a visão simultânea do exterior (público) e do interior (mais privado).
Por esse lado, a escada é um marco dessa delimitação. Quando sobe a escada, o usuário adentra na faculdade e encontra os demais espaços, como salas de aula, biblioteca, laboratórios- lugares mais privados e, geralmente, mais utilizados apenas por acadêmicos e demais funcionários da EAD. Entretanto, quando o usuário se encontra na base da escada ele tem uma vista plena da rua em que a faculdade está localizada.
Em síntese, a Escola de Arquitetura e Design configura-se não apenas como um espaço único, mas como um conjunto de espaços que se interligam de uma maneira singular e que materializam o cotidiano de seus usuários.
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